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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

ONÃ SILVA

 

Sou Onã Silva e o meu nome literário é A Poetisa do Cuidar. Sou apaixonada pelo universo das letras, livros, leituras. Creio que minha inspiração literária é oriunda da terra de areias brancas – Posse-Goiás, minha terra natal, lugar que tive o privilégio de viver-conviver entre os causos e as histórias fantásticas do meu povo possense. Meu deleite é escrever, principalmente cordel, creio que devido a minha origem nordestina (meu pai um homem trabalhador que veio do nordeste) e porque as histórias cordelizadas são fantásticas (rimas, sonoridade, humor, temas cotidianos, personagens, cenários e muitos outros elementos).

Sou uma semeadora de cultura e aprendiz de todas as formas de saberes saborosos. Sou formada em Enfermagem (Universidade Católica de Goiás) e Artes Cênicas (Faculdade de Artes Dulcina de Morais, Brasília), Especialista em Saúde Pública (UnB), Mestre em Educação (Universidade Católica de Brasília), Doutora (Universidade de Brasília-UnB) e Pós-Doutora (UNIRIO).

Exerço, além da minha profissão de enfermeira, a educação em saúde, envolvendo a cultura e outros saberes, sendo facilitadora de oficinas/palestras nas áreas de criatividade, teatro, dinâmicas, atividades lúdicas, arteterapia e outros temas.

Mais dados biográficos em: https://onasilva.com/ona-silva/

 

SILVA, Onã.  Cordel do Trabalhador do labor até o burnô.     Brasília, DF: Thesaurus, 2015. Ilustração e arte da capa: Verônica Saiki.  120 p.  14 x21 cm                      Ex. bibl. Antonio Miranda

 

PARA O ASSÉCIO ACABAR
O REMÉDIO É DENUNCIAR

        Assédio mora é grande violência
Ficar em silêncio é deixar ser assediado
A hora de denunciar se chama agora!

Tem um troço acontecendo
Neste mundo, é bem atual,
Tá crescendo no trabalho
Atormenta muito, é um mal,
Nas empresas se alastrou
Chamam isso assédio sexual.

É tão sério esse problema
E causa sé muita confusão
Quem penas que é minimini
1
Na verdade é depressão
Que atinge o assediado
Geralmente pelo patrão.

O assédio ataca sem dó
Aquele que está vulnerável
A mulher e os deficientes
O assediador não é amável
É grosseiro e agressivo
Deixa a vítima deplorável.

Tem caso tão inacreditável
Tamanha é a sua proporção
O assediador perturba tanto
Deixa a vítima sem ação
Humilhada e no escanteio
Que pensa até em demissão.

Quando o assédio é rotina
Tá todo dia no trabalho
O cristão não aguenta mais
Perde a cabeça com ato falho
O assediador acha isso bom
Chama a vítima de paspalho.

Deste cruel assediador
Diante de tamanha pressão
A vítima vai ficando acuada
Dos colegas tem apoio não
Pois todos morrem de medo
E ficam do lado do patrão.

Imagina só tanto estrago
Que causa o assedio moral
No dia a dia do trabalho
Muita vítima faz este mal
Muita gente tá adoecendo
E tá enchendo o hospital.

Chega gente de ambulância
Que sofreu um piripaque
De tanto sofrer o assédio
Seu coração sofre ataque
Outros buscam outra saída
Nas drogas e no conhaque.

Por que a vítima do assédio
Vive só e é incompreendida?
Isolada busca um refúgio
Até nas drogas e na bebida
Outras vivem na solidão
Pobre vítima, bem sofrida.

Enquanto isso ele gargalha
É o maldoso assediador
Pensa que tá acima de tudo
É um tremendo abusador
Usa do poder, sem cerimônia,
Aplaude a si, é torturador.

Toda vítima vive é no canto
Sofre assim, e é castigada,
Passa por tano aperreio
Do assediador vive acuada
O maldoso gosta é disso
Seu prazer é dar gargalhada.

No trabalho está lotado
De colega amigo da onça
Pois vê o chefe maltratando
Mas a equipe finge de sonsa
Enquanto isso pobre vítima
Chora tanto, com vergonha.

O que mais se vê é isso
É fingimento no trabalho
Se o assédio é amostrado
E a vítima está lá no borralho
Ninguém denuncia o caso
E o patrão agride com galho.

Assédio é coisa tão séria
É uma tremenda violência
Aparece de várias formas
Causa dor e até demência
Atinge a vítima, a mais fraca,
Principal é com deficiência.


O assédio está aumentando
Neste mundo globalizado
Todo mundo quer sucesso
Ninguém quer ficar de lado
No trabalho surgem disputas
E é uma doença do mercado.

Tem gente que pensa assim
Na saúde não tem assédio
Oxente, isso é enganação,
É um fato sem remédio
Esta agressão é de vera,
Tá na saúde, em todo prédio.

Vamos ver o que acontece
Com o pessoal da saúde
Sofre também essa violência
De ser perseguido amiúde
Tem assediador com jaleco
Fazendo vítima pro ataúde.


Muito terrível é esta cena
Quem é da saúde sofrendo
Pelo chefe ou patronato
Que faz assédio horrendo
Muito irônico na profissão
Quem cuida, tá padecendo.

Que mundo esquisitado
Esta era da globalização
Tem política para tudo
Até para a humanização
Mas sobra é assediador
Faz vítima com depressão.

Entre as vítimas do assédio
Vou citar algumas agora
Preferidas são as mulheres
Negros e a boa senhora
Os idosos também sofrem
E os doentes, toda hora.

O assediador, tão maluco,
Com o seu dedo em riste
Ataca quem é deficiente
Humilhando, deixando triste,
É grosseiro e determina:
Sai daqui e não insiste!

E até onde vai o assédios
No ambiente do trabalho
Até quando a gente cala
Sofre com cara de paspalho?
Vamos denunciar tudo isso
Chega de agressão e borralho.

Quem pensa que está isento
De sofrer o assédio moral
Tá totalmente enganado
Porque isso virou um mal
Se alastrando no serviço
Está fazendo a vítima fatal.

Vamos juntos como irmãos
Contra essa agressão lutar
Enfrentando todo assédio
Quando vier a nos atacar
Sabe o que podemos fazer?
Calar jamais. Vamos denunciar.

  1. Minimini é uma expressão usa na comunicação informal para
    descrever ou imitar uma pessoa que reclama.

 

SILVA, Onã.  Histórias da enfermagem no universo do cordel.  2ª. edição revista e ampliada.  Brasília, DF: Thesaurus Editora, 2013.  324 p. ilus. 20x20   Ilustrações:         Silvana de Paula.  Capa: Thiago Sarandy. Apoio: FAC/DF.   ISBN 978-85-409-0233-6
x  
Ex. bibl. Antonio Miranda, exemplar autografado pela autora.



Enfermeiras, Brasileiras , Pioneiras
— um cordel histórico

 

No fechar da cortina
Do Século XX passado,
Voltei ao início da era
Do vivido e do sonhado,
Olhei para meus versos
Há muito rascunhado.

Sem pó de esquecimento
Riscos da minha memória
Igual a colcha de retalho
Bordando uma trajetória
Colcha da minha profissão
Um ponto de sua história.

No meio destes alinhavos
Feitos pela minha mão
Tecidos da vida estudantil
Artesanato de graduação
Hoje um pequeno cordel
Resumo d´algo, reflexão.

       No meio destas relíquias
Achei as linhas primeiras
O fio dos fios do pensar
Sobre umas enfermeiras
As marcantes da história
As pioneiras brasileiras.

Abri a colcha artesanal
Como renda renascença
Carecia de todo cuidado
Cordelar com paciência
Pela história tão valiosa
De gente de influência.

Quem me dera eu fosse
Como elas na linhagem
Cordelaria mais vezes
Bordaria toda imagem
Em arte de renascença
A arte da enfermagem.

Nesta luz centenária
Refletida nas primeiras
Na Escola Ana Nery
1
Formaram 13 pioneiras
Pelo moderno ensino
Legítimas enfermeiras.

Depois noutras turmas
Pioneiras memoráveis:
Heloisa Marai, Rimídia,
Judith, Izaura, amáveis
Maria Francisca e Odete
,                    Isolina e Cecy Clausen.

Oxe, este grupo pioneiro
2
                                     Está na colcha também
Das mulheres modernas
Que pensavam mui além
Elas foram fundadoras
Da Associação ABEn.
3

Nesta viagem d´outrora
Segui o fio do carretel
Levou meus olhos a ela
5
A dona Edith Fraenkel
4
Mulher nobre e ilustre
Destaque neste cordel.

Na colcha enfermagem
O nome dela tá bordado
Naquelas cenas passadas
No DNSP
4 nome marcado
Destacou na Ana Nery
Na ABEn fez um legado.

Na outra cena de arte
No painel tá retratado
O nome de Zaíra Vidal ¨
6
Ao pioneirismo tá ligado
Ela atuou na profissão
Trabalho duro e pesado.

Esta mulher foi parada
Vi a sua colcha inteira
Pra viver tanta peleja
foi valente enfermeira
Construiu a profissão
Como a forte palmeira.

O destaque é devido
A outra inesquecível:
Izaura Barbos Lima 
7
A enfermeira sensível
Que ajudou a construir
Ciência de alto nível.

Muito vale a nossa arte
Pelas mãos das pioneiras
Das mulheres especiais
No espírito, guerreiras,
Delas os primeiros fios
Até nós,.as derradeiras.

 

1 Em 19 de junho de 1925 diplomou a primeira turma da
Escola Dona Ana Neri. Foram 13 enfermeiras enfermeiras
diplomadas. Cinco receberam bolsa de Estudos e foram para
os Estados Unidos. As oito que permaneceram organizaram
uma associação de enfermeiras.

  1. São consideradas sócias fundadoras: Maria Francisca Ferreira
    de Almeida Reis (1926), Rimidia Bandeira de Sousa Gayoso (1926), 

    Judith Arêas (19260, Isolina Saldanha de Lossio (1925), Izaura Bar-
    bosa Lima (1925), Odete Seabra (1926), Cecy Clausen (1926) e
    Heloisa Maria Carvalho Veloso (1925).

 

  1. No dia 12 de agosto de 1926 fundaram a associação, atualmente chamada  Associação Brasileira de Enfermagem –ABEn. 

 

            4. Edith de Magalhães Frankel: enfermeira, primeira presidente da
ANEDB – Associação Nacional de Enfermeiras Diplomadas Brasi-
leiras Diplomadas (atual ANEDB). Presidiu a entidade em três
gestões.

          5.  DNSP – Departamento Nacional de Saúde Pública.

         6.  Escola Dona Ana Nery – grafia anterior  do nome da atual Escola
de Enfermagem Ana Nery/Universidade Federal do Rio de Janeiro.

7. Zaira Cintra Vidal – enfermeira, exerceu das vezes a presidência da ANEDB, Associação Nacional de Enfermeiras  Diplomadas Brasileiras (atual ABen).

Izaura Barbosa Lima  - enfermeira, sócia fundador  e atuante na ANADB. 

 

       Lembranças das estrelas-enfermeiras

       Típicas de Goiás

      
Na terra de árvores tortas
Tempo atrás, bem distante,
Guerreiros dentro da mata
Desbravando tudo adiante
Cabras machos bandeirantes.

Dentro da mata escura
Os cabras da bandeira
Pisaram na terra boa
Tinha água e cachoeira
Também acharam ouro
Toda sorte de primeira.

Bandeirantes existiram
Na lonjura lá de trás
Eram forte e galalaus
Enfrentavam animais
Andavam no cerrado
E assim nasceu Goyaz.

As bandeiras lá no alto
Foi crescendo o Estado
Vila Boa foi a capital
De Goyaz, lugar amado,
Terra do pequi cheiroso
Tem santuário: cerrado.

Quanto desenvolvimento
Depois de sua fundação
O progresso foi surgindo
No estado, a evolução
Tudo foi melhorando
E carecia de profissão.

Foi década de trinta
Pedro Ludovico, doutor,
Também era político
Teve ideia de valor
O povo sem doença
Saúde Pública declarou.

Este plano bem político
Fez parte da história
Junto ia enfermagem
Naquela trajetória
Toda ação sanitarista
Tá dentro da memória.

Outra bandeira arribou
Não foi bandeirante não
Foram as irmãs bondosas
Elas cuidava da aflição
Começou a enfermagem
Em Goiás, uma profissão.

Os doentes e desvalidos
Gente fraca a padecer
Chegava na Santa Casa
Pra misericórdia receber
A enfermagem na época
Só as irmãs, a exercer.

Surgiu assim em Goiás
A história da enfermagem
Começou pela religião
1
As vicentinas de coragem
Depois surgiram escolas
Pra becar, era vantagem.

              Hospitais foram criados
Criaram postos, também
Surgiram duas faculdades 
2
Pra formar gente de bem
Uma dentro da Católica
Outra na UFG, hoje FEN. 
3          

Outrora, na era passada,
Foi grande a preocupação
Da enfermagem goiana
Constante capacitação
Diversos cursos na terra
Luta por qualificação.

E o tempo foi passando
Goiás em crescimento
Outras escolas surgiram
Enfermagem, o intento,
Uma educação melhor
E total fortalecimento.

 

       Os anos corriam ligeiros
Que nem o Rio Corumbá
Veio a guerra e ditadura,
E depois as Diretas Já
E a enfermagem goiana
Também se pôs a lutar.

 

                    Do cerrado muita ideia
E alguma participação
A enfermagem pitacou
Pra nova Constituição
Defendeu criar o SUS 
4
Está na Carta da Nação.

 

                                  Que história tão bonita
A profissão goiana fez
Teve garra bandeirante
Lutou muito, sem talvez
Tanta gente competente
É a enfermagem da vez.

Sou goiana do cerrado
Sou becada enfermeira
Na Católica fiz o curso
Sei toda história inteira
Nesta grande profissão
Fiz minha bela carreira.

Tantos nomes da história
A enfermagem de Goiás
Vicentinas, as primeiras,
Mais outras vieram atrás
Nomes tão inesquecíveis
Alembro deles, sou capaz?

Sei dizer quem pelejou
E tá na peleja agora?
A enfermagem goiana
Tem uma linda história
Muitos que escreveram
Faço esta dedicatória.

 

       Na década de quarenta
Elas foram marcantes   
5
Irmãs Lydia, Maria Inês,
Ela Ercília Fernandes,
Junto a Jeanne Saboya
Criaram Escola, dantes.

Na primeira formatura
Dizem seis enfermeiras
 6
Aparecidas e Violeta,
Ítala dentre pioneiras
Marianinha e Letícia
Eram todas parceiras.

No cerrado verdejante
Histórias mil a contar
Nomes que ensinaram
Tanta gente a cuidar
Gente mui iluminada
Luas goianas a brilhar.

Lembro do céu goiano
E das estrelas também
Entre elas uma Abadia,
Lecy, Milka mais quem?
Tantas são as estelares
E os docentes da FEN.

História de dedicação
Alegria e bem comum
Lembro de Ester Aires
Lembro Marlene Salum
Dagmar, Milva e Lucide
Ôxe, lembro mais um?

Tantas estrela goianas
Numas o nome tem Sina
São nomes só em Goiás
Tão notáveis: Idelmina,
Tem Oscarina e Isolina,
E Umbelina e Aldevina.

Entre luas e estrelas
Enfermagem tá no ser
Tantas mãos a pelejar
Entre elas, Elizabeths,
Nosso lema é cuidado
Não é Ivete e Salete?

A história é tão imensa
Assim como a saudade
De Marysia à Marilda,
Celma, Rosa, Aminadab,
Shirlei, Thael, Adenicia
Exemplos de qualidade.

Os homem da profissão
Não esqueço não senhor
O que destaco primeiro
Wilson, meu professor,
Aos enfermeiros goianos
Também presto louvor.

Meu Deus, tantas estrelas 
7
Impossível de todas falar
Cada uma tá na história
Também neste cordelar
Palmas a todos de Goiás
Enfermagem tão estelar.
 

*

As estrelas-enfermeiras citadas neste cordel: Thael Pimenta Machado. Maria Abadia Estrela, Lecy Ferreira de Santana, Milca Severino Pereira, Ester da Costa Aires, Marlene Maria de Carvalho Sallum, Dagmar Lustosa Nogueira, Milva de Melo Cavalcanti Oliveira, Lucide Verônica Accorsi, Idemina Lopes de Lima, Oscarina Aristides Godinho, Isolina de Lourdes Assis, Umbelina Martins Santana, Aldevina Maria dos Santos, Elisabeth Espiridião Cardozo, Angela Bete Severino Pereira, Ivete Santos Barreto, Maria Salete Silva Pontieri Nascimento, Marysia Alves da Silva, Marilda Carneiro Costa Martins Arruda, Celma Martins Guimarães, Rosangela Alvo Monteefusco, Aminadab Rodrigues Rodarte, Shirlei Giovanini, Adenicia Custódia Silva e Souza, Wilson Abrenhosa Andrade.

 

  1.  Em 2 de Outubro de 1942, seis Filhas de Caridade de São Vicente de Paulo e Santa Luzia de Marillac  fundaram, em Goiânia,
    a Escola de Enfermeiras do Hospital São Vicente de Paulo.
  2. Em 1963,o curso foi reconhecido de nível superior vinculando à
    Universidade de Goiás.   Em 1974, vinculou-se à Universidade Católica de Goiás.  Em 1975, iniciou-se o Curso de Enfermagem na
    Universidade Federal de Goiás.
    3  FEN-UFG -Faculdade de Enfermagem/Universidade Federal de Goiás.
  3.   

SILVA, Onã.  Oxente que enfermeira diferente!  Projeto gráfico, capa, diagramação: Tatiana Lima.  Ilustração: Luciana Rodrigues.    Ciudarte Editora, 2020.   14 p.  folheto.  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

Eu vi o trabalho bem cedo
Derne que eu era pequena
Meu pai era comerciante
Vendia de sal a cibalena
Vendia a vela e o fósforo
              Pro povo fazer novena.

Eu, mais nós lá de casa
A famiarada era ajudante
Inté na campanha política
Eu era uma menina falante
Via o meu pai discursando
Sua voz era forte e vibrante.

Papai falava do progresso
Para o povo do interior
Fazia planos pra cidade
Eu o via como professor
Com ele aprendi a lição:
Meu pai era trabalhador.

E a minha vida fui vivendo
Buscando a experiência
Levei o saber na cachola
Para o mundo da ciência
Pra escrever com lindeza
Da labuta tirei a essência.

Na universidade da vida
E na vida universitária
Eu já era trabalhadeira
Uma exímia funcionária
Num turno batia o cartão
No outro, era estagiária.

Cursei minha enfermagem
Que me fez profissional
Mas desde a faculdade
Questionava o tradicional
Busquei outros saberes
Para o cuidado integral.

Eu senti incompreensão
Foi do povo companheiro
Eu trabalhava sem parar
inté o domingo inteiro
Por isso cuidava de mim
E fui pra arte bem ligeiro.

"A enfermagem é arte"
Esta frase me encantou
Sempre foi onda vibrante
Para cuidar me renovou
Enfermagem é cultural
Neste caminhar eu vou.

 Que bestagem essa área
Onde você gasta dinheiro
O que teatro tem a haver
No serviço de enfermeiro?
Eu ouvia essa ladainha
Daquele colega palpiteiro.

Eu sou filha é de João
Um caboclo piauiense
Eu sou filha é de Anália
Uma guerreira possense
Já comi carne de bode
Palpite não me convence.

Minha vida é côrralinda
Minha trajetória também
Fiz plano para trabalhar
No meu cuidar, a arte tem,
À minha gente do cuidado
Sempre desejei o bem.

A escala dura do noturno
Naquela grande pediatria
Era tanto anjim adoecido
Que de cuidado carecia
Minha enfermagem era
Com muita arte e poesia.

Toda realidade tristonha
Que passava no hospital
Inovava o meu cuidado
Para alegrar meu igual
Fui sobre isso refletindo
Em artigo, poesia e tal.

O trabalho bem cansativo
Na emergência era drama
Atendimento de todo jeito
Até pra pessoa de pijama
Centro Obstétrico pesado:
Neném nascendo na cama.

Noutra área bem diferente
Cheia de norma pra anotar
Fui expert em busca ativa

Microbiologia fui estudar
Eu orientava as equipes
Sobre infecção hospitalar.

Tudo se passava ligeiro
Mas no trabalho teve elo
Fui para outra unidade
Sem nobreza de castelo
Dessa época lembro bem
Eu tinha um fusca amarelo.

Trabalhei em muitas áreas
Principal foi em educação
Pois sou uma enfermeira
Que gosta da prevenção
Palestrei em muito curso
E dinamizei com emoção

O trabalho que me marca
Foi aquele no educativo
Como enfermeira-artista
Usei o meu lado criativo
Levei aluno pro cinema
Dentro do método ativo.

Cê não pensa que foi hoje
Aquela aula lá no cinema
Porque esse ensino ativo
Não é novo no sistema
Meu pai já problematizava
Lá no tempo da cibalena.

Minhas aulas dinâmicas
E cheias de criatividade
Sempre foram diferentes
Recursos em variedade
Ensinava noutro olhar
Té no Parque da Cidade.

Varei muita madrugada
Primeiro dando plantão
Depois estudando muito
Quando fiz especialização
Falando sobre o cuidado
Com poesia e a reflexão.

Vi o saber noutro nível
Dentro da complexidade
Cursei mestrado, oxente,
O tema foi a criatividade
Concluí o doutoramento
Meu pé na aprendizagem.

Fiz um juramento sozinha
Naquele dia de colação
Para o cuidar significativo
Sempre ação e reflexão
Para a minha felicidade
Ao cuidar do meu irmão.

Foi essa decisão pessoal
Foi de vera e bem certeira
Pois vivi cada momento
Dessa minha feliz carreira
Cuidando de forma integral
Jurei ser uma enfermeira.

Na história profissional
No papel de escritora
O cuidado é inspirador
Tenho ideia inovadora
Artigo, romance, poesia,
No cordel, já sou doutora.

Cuido com o selo da arte
Pois a enfermagem arte é
Vou pra rua falar de saúde
Levei teatro, pois boto fé,
Em cenários diferentes
Fui pra frente, sem dar ré.

Meu coração bate feliz
Quando eu cuido com arte
Meu slogan de trabalho
É que o brincar faz parte
Eu sou enfermeirartista
Vivo no palco da Cuidarte.

Me entreguei pra o labor
Durante toda a minha vida
Com ética e aprendência
Com criatividade na lida
Eu sou A Poetisa do Cuidar
Grata, enfermagem querida!


SILVA, Onã.  Solange Caetano, tem coragem no nome e enfermagem no sobrenome. Programação e arte da capa: Oscar Blaffert Jr.  Brasília, DF:  Thesaurus, 2014.   4 p.  ilus. ISBN 978-845409—323-4              Ex. bibl. Antonio Miranda  


Minha homenagem a Solange-Coragem

Eu aqui vou encerrando
Mais uma cordelagem
Que é muito merecida
Esta poética homenagem
Para a Solange Caetano
Que tem no nome coragem.

Pra frente, grande mulher,
Você é muito guerreira
Precisamos de sua força
Para o bem da carreira
Use bem seu sobrenome
Visse, Solange enfermeira?

Visse, minha gente, nesta homenagem cordelizada,
por que Solange Caetano tem coragem no nome  e
enfermagem no sobrenome?


 

Página ampliada e republicada em outubro de 2022

 

 

 
 
 
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